Na Comunidade Terapêutica Grupo Resgate São Francisco de Assis, em Linhares, uma padaria básica é o que fortalece a autonomia e oferece qualificação profissional para acolhidos. A capacitação feita por meio do projeto “Mão Na Massa” — um dos vencedores do Edital de Boas Práticas de 2023 —, está em andamento e acontece a cada três meses dentro da comunidade.

Durante a aplicação, o curso formou 28 acolhidos com entrega de certificado. Entre eles, está Bruno Mora, ex-acolhido e participante da primeira turma do programa. Mesmo recuperado da dependência química, Bruno Mora continua ajudando os novos alunos durante as aulas e vai até a CT para realizar o trabalho voluntário de monitor. 

“Esse projeto é importante para mim e para todos os outros. É mais uma oportunidade de aprendizado. Quando a professora perguntou se eu tinha interesse, prontamente disse que sim. Começamos a trabalhar e eu me apaixonei pela atividade. Aprendi muito e, atualmente, ajudo os outros rapazes nas aulas e na comunidade. Fazemos tudo com dedicação e amor”, compartilha o ex-acolhido.

Receitas caseiras em oportunidades

Toda semana, 10 acolhidos têm a oportunidade de aprender novas receitas de bolos, pães, biscoitos e salgados com a instrutora do curso. Após criar e inovar na padaria, os alimentos são consumidos, principalmente, pelos familiares em dias de visitas. 

Além disso, os produtos são vendidos em uma feirinha realizada aos domingos na entrada da Comunidade Terapêutica. Os valores arrecadados são destinados para melhorias no Grupo Resgate São Francisco de Assis. 

Os acolhidos, com incentivo dos gestores do programa, pensam também em como colocar em prática os conhecimentos. É o caso de Elivelto Detes, um acolhido recém-formado que, assim como Bruno Mora, acredita nos frutos positivos do programa. Segundo ele, todo o aprendizado será levado para fora e, quem sabe, se tornará uma fonte de renda extra para a família nos finais de semana.

“Para mim, foi muito significativo. Estamos aqui no processo de recuperação, lidando com a dependência, e surge um projeto como esse em nossas vidas. É tudo para nós, porque adquirimos conhecimento sobre coisas que não sabíamos. Fiquei muito entusiasmado em querer aprender e, graças a Deus, consegui aprender bastante. Fizemos muitas coisas gostosas e, ao olhar para tudo, pensei: ‘Poxa, fomos nós que fizemos! Que legal!’ Fiquei maravilhado”, conta Detes.

Projeto como Laborterapia

O "Mão na Massa" é uma atividade que integra elaboração, execução e trabalho, servindo como uma forma de terapia ocupacional para os acolhidos. Essa abordagem permite inovar a rotina e motivar os participantes. Segundo Cristiane Maria da Silva, assistente social e coordenadora do projeto, a laborterapia tem proporcionado melhorias significativas na CT.

"Eles estão participando de uma atividade terapêutica, uma laborterapia, que gostam muito de fazer na panificadora. Isso os ajuda a se concentrar em algo e a não pensar nas substâncias. Quando ficam parados, notamos que a agitação aumenta, e os acolhidos sentem mais vontade de sair e até de desistir do tratamento. Por isso, nossa expectativa para o futuro é manter o projeto em funcionamento, seja por meio de doações ou recursos próprios. Queremos garantir que eles continuem em atividade terapêutica e produtiva", explica a coordenadora.

O fundador e coordenador do Grupo Resgate São Francisco de Assis, Altamir Ribeiro de Moura, que acompanha diariamente a rotina dos acolhidos, destacou que os editais que oferecem oportunidades para projetos como o “Mão na Massa” são essenciais para a reintegração desses indivíduos na sociedade.

“Este projeto é extremamente importante e valioso para a nossa comunidade. Muitas pessoas em processo de recuperação não tiveram a oportunidade de realizar treinamentos e especializações em áreas profissionais antes. Aqui, elas estão não apenas em tratamento, mas também desenvolvendo suas habilidades. Ao final, têm a chance de sair com uma profissão, buscar um emprego e se sentir valorizadas como indivíduos”, ressaltou. 

Edital de Boas Práticas

O Governo do Estado, por meio da Subsecretaria de Estado de Políticas sobre Drogas (Sesd), vinculada à Secretaria de Estado do Governo (SEG), lança anualmente Editais de Boas Práticas no campo da política sobre drogas. A partir disso, são selecionados projetos em três eixos temáticos: prevenção ao uso de drogas; cuidados e tratamentos para pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas; e reinserção social.

Após um processo, os projetos contemplados recebem o prêmio para viabilização ou fortalecimento da iniciativa. 

Por Júlia Paranhos