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Dia Mundial de Prevenção do Suicídio: especialista Daniela Reis e Silva alerta para cuidados com a saúde mental
10/09/2024 10h00 - Atualizado em
10/09/2024 12h56
Nesta terça-feira (10), é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, data em que profissionais de saúde e outros especialistas das mais variadas áreas promovem, capacitam e discutem abertamente com a população a importância dos cuidados com a saúde mental. Além disso, ressaltam as formas de acolher aqueles que pensam em suicídio e são afetados por ele.
Atenta à esta demanda, a Rede Abraço convidou a Psicóloga, Mestre e Doutora em Psicologia Clínica (PUC-SP), coordenadora da Especialização em Intervenção na Autolesão, Prevenção e Posvenção do Suicídio do Instituto Vita Alere e Diretora do Instituto Acalanto, Daniela Reis e Silva, para um bate-papo sobre a temática.
A especialista orientou e sanou dúvidas a respeito da ligação entre os psicoativos e o suicídio, e explicou por que as pessoas ainda têm dificuldade em falar sobre suicídio, mesmo com a maior exposição midiática.
Confira a entrevista
Qual é a relação entre o uso de psicoativos e o agravamento dos pensamentos e comportamentos de risco?
“O uso de substâncias psicoativas está associado a múltiplos fatores, desde pressão social e influência de pares, a fatores genéticos e biológicos, fatores psicossociais, bem como alívio de estresse e sintomas de transtornos mentais, entre outros. Uma das questões que merece destaque é que o uso de substâncias psicoativas pode alterar a química cerebral, afetando o julgamento e a regulação emocional, o que pode desencadear ou intensificar comportamentos de risco, incluindo o comportamento suicida, pois também pode aumentar a impulsividade, potencializando a probabilidade de comportamentos hetero e autoagressivos.”
Existe uma motivação para o suicídio ser uma das principais causas de morte entre jovens?
“O suicídio é multifatorial e não é possível atribuir uma causa única para sua ocorrência. Existem fatores de risco que fomentam a vulnerabilidade para o surgimento e o agravamento do comportamento suicida, e o uso de substâncias psicoativas, mesmo de forma recreativa, está entre esses fatores. O que é considerado como motivação está entre os fatores desencadeadores que se somam aos fatores predisponentes, ou seja, pré-existentes, e atualmente grande foco tem sido dado aos fatores de proteção em relação ao comportamento suicida.”
Por que as pessoas ainda têm dificuldade de falar sobre suicídio, mesmo com maior exposição midiática?
“O tabu e o preconceito em relação ao suicídio são historicamente arraigados em nossa sociedade e colaboram para que ainda hoje exista um forte estigma em torno da saúde mental e do suicídio. Os mitos que envolvem o suicídio, inclusive de que não se pode falar sobre este tema, durante anos impediram que se pudesse falar sobre este problema de saúde pública, de forma qualificada e responsável. É preciso desmistificar o suicídio e disseminar o conhecimento adequado em toda sociedade, inclusive, entre profissionais de saúde, para que pessoas em sofrimento psíquico intenso recebam o acolhimento necessário e entrem nas linhas de atenção psicossocial.”
Como identificar os sinais de alerta?
“Os sinais de alerta incluem mudanças abruptas no comportamento, isolamento social, perda de interesse em atividades, alterações na regulação emocional, insônia, expressões de desesperança, falas sobre o desejo de não existir ou de querer morrer, e o uso crescente de substâncias psicoativas, entre outros. A atenção a esses sinais para a detecção do comportamento suicida pode ajudar na intervenção precoce.”
Como pessoas comuns podem ajudar ao perceber sinais de alerta?
“Qualquer pessoa, e não só profissionais de saúde, ao perceber os sinais de alerta pode oferecer apoio escutando sem julgamento, acolhendo o sofrimento de forma empática e incentivando a busca de ajuda profissional. Reconhecer e validar a dor da pessoa, sem minimizar seus sentimentos, é crucial para fortalecer a rede de apoio.”
Por que o índice de suicídio é mais alto entre homens?
“Não há explicação simples, mas fatores como normas culturais que desencorajam os homens a expressar emoções, a maior dificuldade de homens procurarem ajuda para questões emocionais e menor adesão a tratamentos de saúde mental, além da utilização de métodos mais letais, contribuem para o maior índice de suicídio entre eles. Por outro lado, temos alto índice de tentativas de suicídio entre as mulheres. Atualmente, há uma amplificação da discussão sobre suicídio e gênero e a atenção em saúde mental precisa ser ofertada de maneira ampla e incondicional, independente do gênero.”
O Brasil vive uma escassez de políticas públicas relacionadas à prevenção do suicídio?
“Embora o Brasil tenha até legislação vigente visando à prevenção do suicídio, falta ainda uma estratégia nacional bem estruturada e difundida, com esforços coordenados que envolvem várias áreas da sociedade, como saúde, educação, assistência social, justiça, mídia, entre muitos outros atores sociais.”
Como lidar com o impacto de fatores como Covid-19, crise socioeconômica e aumento de doenças mentais na saúde mental da população?
“É preciso aumentar a consciência pública sobre este fenômeno, sensibilizar os gestores para a implementação de legislação pertinente bem como linhas intersetoriais de cuidado, capacitar profissionais em diferentes políticas públicas, garantir acesso a serviços de saúde mental, investir em monitoramento e coleta de dados, bem como em programas de redução do acesso a meios letais, fomentar a promoção de saúde mental, a prevenção de fatores de risco, a ampliação de fatores de proteção e o apoio à população vulnerável.”
Procure ajuda
CVV
Formado exclusivamente por voluntários, o CVV oferece apoio emocional gratuitamente. A conversa é de forma sigilosa, sem julgamentos, críticas ou comparações.
- Telefone 188 (24 horas por dia e sem custo de ligação)
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É um canal de escuta acolhedora, rede de instituições e pessoas que não apenas oferecem um serviço de apoio emocional e conteúdos confiáveis em saúde mental, mas também capacitam futuros profissionais da área de cuidado humano.
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- Das 8h às 22h, horário de Brasília
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