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Dia Internacional da Redução de Danos: estratégia de educação e saúde integral
07/05/2025 12h14 - Atualizado em
07/05/2025 12h15

A assertividade de estratégias de saúde têm o poder de ampliar o acesso, qualificar e consolidar um cuidado que pode transformar positivamente a vida de comunidades inteiras. Um exemplo marcante disso é a Redução de Danos (RD) que, a partir da década de 90, contribuiu com a diminuição da epidemia de HIV/AIDS no Brasil.
Contudo, está equivocado quem pensa que a Redução de Danos é uma estratégia que olha pontualmente, apenas para a saúde física dos indivíduos e para os serviços de atendimento.
Segundo a assessora técnica da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos (SENAD)/Fiocruz, Carolina Roseiro, a RD é uma estratégia de saúde e de educação que envolve muitos saberes, multiprofissionais e interdisciplinares.
“A RD busca a mitigação dos riscos que determinados danos ocasionam às pessoas. No caso dos problemas ligados ao uso de álcool e outras drogas, é comum que os problemas apareçam nas condições de saúde, porém, a RD entende que é preciso olhar para a saúde integral e não apenas na interrupção do uso, que nem sempre é possível. Ela olha também para o contexto de moradia, emprego, renda, cultura e todas as áreas da vida humana para trabalhar com esses danos e os riscos”, ressalta Carolina.
A gerente de Avaliação, Estudos e Informações sobre Drogas da Rede Abraço, Nathália Borba, também ressalta a importância da abordagem na construção de propostas de cuidado.
“A redução de danos aposta no vínculo e na construção conjunta de projetos terapêuticos. Implica que as propostas de cuidado sejam singulares e voltadas para as diferentes necessidades de cada pessoa. Assim, o foco não é apenas o uso de substâncias, mas a qualidade de vida das pessoas - o que inclui o cuidado à saúde, o acesso aos direitos e o fortalecimento de laços e participação social, por exemplo”, finaliza Nathália.
Um caminho para o reconhecimento
Ao enxergar as pessoas de modo integral, a estratégia ajuda os atendidos a se conhecerem e a reconhecerem os problemas que decorrem do uso de álcool e outras drogas. Dessa forma, contribui para adesão ao cuidado e evita que as pessoas desistam do tratamento, o que muitas vezes, ocorre quando se utiliza uma abordagem focada exclusivamente na abstinência.
De acordo com a pesquisa realizada no Centro Regional de Estudos, Prevenção e Recuperação de Dependentes Químicos – CENPRE, do Hospital Universitário Dr. Miguel Riet Corrêa Jr (HU-Furg), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), que analisou o fenômeno de evasão do tratamento na instituição, 60% dos pacientes não aderiram aos cuidados por “não achar necessário realizar o tratamento”.
Com o objetivo de analisar o fenômeno de evasão do tratamento, nesta pesquisa foi realizado estudo de prontuários clínicos e de entrevistas aplicadas aos pacientes que não aderiram ao tratamento. Dos 593 prontuários analisados, 27 foram desligados do serviço, sendo assim não foram inseridos nas demais análises. Dentre os 566 prontuários restantes, 29 pacientes receberam alta, 50 foram encaminhados para outros serviços e 487 abandonaram o tratamento, resultando em uma taxa de abandono de 82% no período de novembro de 1997 a abril de 2014.
Mas, embora essa estratégia seja aliada na redução da evasão das pessoas com problemas relacionados à substâncias psicoativas do tratamento e também para outras áreas da vida dos atendidos, ainda há um desafio que percorre os serviços, que é a resistência à redução de danos entre profissionais de saúde.
“Essa estratégia surgiu para garantir direitos à saúde para populações estigmatizadas, de cuidar de quem escolhe usá-las, que é uma escolha complexa, ligada ao contexto de vida, não só à substância. A confusão é achar que a redução de danos abandona o tratamento, quando na verdade ela o possibilita para quem não está em abstinência. E para os profissionais de saúde isso é um grande desafio, pois quando a pessoa procura, por exemplo, o serviço de saúde para eliminar uma infecção, ela busca intervenções para acabar com esse problema. Mas com as drogas é diferente: não dá para eliminar o problema, porque o que leva a pessoa a usar não são apenas agentes externos, mas o próprio comportamento dela. E a Redução de Danos trabalha com isso, com esse desafio para os serviços. O ‘xis’ da questão é fazer tanto os usuários quanto os próprios profissionais entenderem isso”, afirma Carolina.
O que falta para a Redução de Danos ser mais aceita?
Para a melhor aceitação da abordagem na sociedade é necessária uma mudança cultural e também o entendimento que as pessoas podem fazer suas escolhas de estar ou não em abstinência, sem preconceitos. E é importante que todos compreendam que, assim como os demais membros da sociedade, eles também necessitam da intervenção, acesso aos serviços de forma digna e seus direitos garantidos.
“Ainda existe muito preconceito e desinformação sobre a Redução de Danos, mesmo com tantas experiências positivas. Há quem pense inclusive que a RD vai incentivar o uso de drogas, o que não é verdade. Acredito que espaços de formação que partam da abordagem de RD e a troca de experiências podem contribuir para que essa estratégia seja mais aceita”, finaliza Nathália.
Texto: Júlia Paranhos