- SOBRE
- Pesquisas
- Rede Abraço
- Notícias
- COESAD
- Indicadores dos CAADs
Panorama 2024: Cisa apresenta análise sobre consumo de álcool entre os brasileiros
15/04/2025 15h37

O Centro de Informações sobre Saúde e Álcool – CISA – lançou a sexta edição da publicação “Álcool e a Saúde dos Brasileiros” – Panorama 2024, que apresenta uma análise abrangente do impacto do consumo de álcool na saúde da população brasileira, com dados sobre internações, mortalidade, desigualdades raciais e de gênero, e iniciativas tecnológicas na prevenção ao uso nocivo de álcool.
Embora tenha seguido a tendência mundial de declínio do consumo per capita de bebidas alcoólicas, o Brasil registrou aumento do consumo abusivo entre 2010 e 2023, segundo dados da pesquisa Vigitel, citada no Panorama 2024. Há destaque para o crescimento entre mulheres, jovens (18 a 34 anos) e pessoas com maior escolaridade. Considera-se que, apesar de culturalmente aceito e enraizado em celebrações da cultura brasileira, o álcool pode ser usado de maneira nociva, trazendo impactos na saúde individual e coletiva, que abrangem uma ampla gama de doenças e condições além de impactar em taxas de acidentes e mortes evitáveis e violentas.
As condições socioeconômicas interferem nos impactos do uso nocivo de álcool, com taxas mais altas de internações e óbitos relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas em populações de renda baixa ou média. Isso acontece porque tais grupos populacionais estão mais expostos a outros fatores de risco, como insegurança alimentar e/ou alimentação pouco saudável, menos acesso à informação, educação, segurança e serviços de saúde.
No Brasil, houve uma queda de 52% nas internações totalmente atribuíveis ao álcool[1] entre 2010 e 2023. No entanto, após queda até 2019, houve um aumento nos óbitos relacionados ao álcool[2] a partir de 2020, refletindo os impactos da pandemia de COVID-19. As principais causas foram alcoolismo e doença alcoólica do fígado. O Espírito Santo foi o estado com a segunda maior taxa de óbitos devido ao uso de álcool em 2022 (39,4 por 100 mil habitantes), atrás apenas do Paraná (42,0 por 100 mil habitantes).
O Panorama 2024 também observou que os impactos do uso nocivo de álcool são desiguais para pessoas brancas, pretas e pardas, sendo que as últimas morrem mais em decorrência de problemas com o álcool do que os primeiros: a população preta apresenta as maiores taxas de óbitos atribuíveis ao álcool em quase todos os anos analisados pelo CISA (2012 a 2022). Essa desigualdade é reflexo das disparidades em relação à saúde e ao acesso a cuidados, decorrentes de questões socioeconômicas e fatores históricos, sociais e estruturais da sociedade brasileira. Além disso, a publicação destaca que “o estresse causado pela discriminação racial crônica também pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade, depressão, traumas psicológicos e abuso de substâncias, incluindo bebidas alcoólicas”.
As principais causas de mortes são diferentes entre as faixas etárias. No ano de 2022, é possível observar que cada faixa etária possui ranqueamento diferente para as principais causas de morte atribuíveis ao álcool, sendo que as pessoas mais jovens (0 a 17 anos e 18 a 34 anos) apresentam maiores proporções de mortes devido a agressões por meio de disparo de arma de fogo ou outra arma não especificada, seguidas de mortes por lesões autoprovocadas intencionalmente. Entre pessoas com idade entre 35 e 54 anos e com 55 anos ou mais, a principal causa dos óbitos é a doença alcoólica do fígado.
Enquanto entre homens o consumo abusivo se mantém estável ao longo do tempo (entre 2010 e 2023), entre mulheres, o consumo abusivo aumentou de forma contínua, especialmente entre mulheres jovens (18 a 34 anos). Apesar de menor prevalência geral, as mulheres negras apresentam as maiores taxas de mortes exclusivamente atribuíveis ao álcool, o que revela uma dupla vulnerabilização ao interseccionalizar raça/cor e gênero, evidenciando o impacto desproporcional das desigualdades sociais e estruturais na saúde individual e coletiva.
Soma-se a essas desigualdades, o estigma em relação ao alcoolismo, que afeta especialmente as mulheres e é um importante obstáculo para a busca e o acesso a serviços e cuidados. A carência de serviços assistenciais culturalmente sensíveis dificulta a atenção e o cuidado adequado aos problemas relacionados ao álcool nos grupos populacionais. Segundo a publicação:
“Ser mulher e preta multiplica os riscos associados ao uso nocivo de álcool. Os resultados mostram um impacto desproporcional dos óbitos atribuíveis ao álcool entre pessoas pretas e pardas. Embora isso não seja surpreendente, dada a história do país, dados como esses servem como base para a mensuração de efetividade de políticas públicas direcionadas para a redução do impacto do uso nocivo de álcool.”
O Panorama 2024 reforça a necessidade de abordagens intersetoriais, que considerem questões de gênero, raça/cor e faixa etária, além de políticas que combatam estigmas e as causas estruturais do abuso de álcool, como desigualdade social e falta de acesso à saúde mental.
Texto de Nathalia Borba Raposo Pereira, gerente de Avaliação, Estudos e Informações sobre Drogas.
Referência: ANDRADE, Arthur Guerra de (org.). Álcool e a Saúde dos Brasileiros: Panorama 2024. 1. ed. São Paulo, SP: CISA, 2024. E-book. Disponível em: https://app.tratsolucoes.com.br/s/?19349.303.1446351.0.4.234639.9.214004917.0.10.0.0.252269.0.0.07efc
[1] Doenças ou condições de saúde totalmente atribuíveis ao álcool são aquelas que dependem exclusivamente da existência do consumo do etanol, como o transtorno por uso de álcool, a doença alcoólica do fígado e a síndrome alcoólica fetal, por exemplo.
[2] Doenças, agravos ou condições de saúde relacionadas ao álcool reúnem aquelas totalmente atribuíveis ao álcool e as parcialmente atribuíveis ao álcool, ou seja, aquelas em que o álcool exerce um papel parcial de fator de risco importante, mas não exclusivo, tais como os acidentes de trânsito, a cirrose hepática e o câncer da faringe, por exemplo.