Cachoeiro realiza debate sobre política de drogas e redução de danos

14/02/2025 18h08

O Centro de Atenção e Acolhimento Integral sobre Drogas (CAAD) Cachoeiro, realizou na última quarta-feira (12), a 14ª Reunião Ampliada de Rede com o tema “Estratégias de cuidado na redução de danos: a perspectiva de profissionais e acolhidos”. O evento aconteceu no município de Cachoeiro de Itapemirim e contou com a participação de profissionais das Redes de Atenção à Saúde, equipes dos Serviços de Acolhimento Residencial Transitório (Sarts), além de atendidos pelo CAAD do município e representantes da sociedade civil.

Segundo a equipe do CAAD Cachoeiro, o evento promoveu um espaço onde profissionais da saúde, acolhidos e familiares compartilharam seus relatos e ampliaram seus conhecimentos sobre a temática.

“Durante a reunião, ouvimos os relatos dos acolhidos e da comunidade, que são essenciais para que os profissionais possam compreender as necessidades reais e os desafios enfrentados pelos atendidos no dia a dia. Esses depoimentos trouxeram uma perspectiva valiosa sobre o que funciona na prática e o que precisa ser ajustado no processo de cuidado. A participação ativa dos acolhidos e das comunidades contribui para uma abordagem mais empática e personalizada, além de promover um ambiente de confiança e respeito mútuo. Para os profissionais, essa troca é fundamental para aperfeiçoar o atendimento, reconhecendo que cada pessoa tem uma jornada única. Além disso, os relatos desempenham um papel importante na redução do estigma e na melhor integração do acolhido à sociedade, fortalecendo a criação de uma rede de apoio mais eficaz e solidária”, explica o coordenador do CAAD Cachoeiro, Robert Miranda. 

Perspectiva médica

No evento, foi abordada a perspectiva clínica e psiquiátrica sobre a estratégia de redução de danos, uma abordagem que visa minimizar os impactos negativos do uso de substâncias psicoativas. Essa questão inclui, entre outras medidas, a substituição de substâncias mais prejudiciais por alternativas menos danosas, além de incentivar um uso mais consciente, com orientações sobre quantidades seguras e os riscos associados.

De acordo com o médico clínico e socorrista Dr. Lacy Ramos Júnior, que atuou por sete anos na Rede Abraço, dialogar sobre a abordagem é fundamental, pois se trata de uma prática consolidada há décadas em países da Europa.

“No Brasil, o método ganhou relevância nesta última década, especialmente diante do aumento do uso de substâncias psicoativas, de forma a esclarecer aos profissionais que nossa postura, visão ética e maneira de encarar as escolhas de cada atendido são fundamentais. Não buscamos necessariamente interromper o uso da substância, pois muitas pessoas que têm problemas relacionados ao álcool e outras drogas não desejam parar ou estão em um estágio de comprometimento que dificulta a adesão ao tratamento. Por isso, nossa abordagem como equipe, pautada em um olhar livre de preconceitos, é focada em melhorar a qualidade de vida desses indivíduos e fazer a diferença. Oferecemos condições para o exercício da cidadania, buscamos reduzir conflitos familiares e, principalmente, integramos os usuários à rede de apoio disponibilizada por serviços como o CAAD, o CAPS AD e outras iniciativas propostas pela Rede Abraço”, explica o médico. 

Embora a estratégia de redução de danos tenha ganhado relevância no Brasil, segundo o psiquiatra Matheus Guimarães, que atua como tutor e preceptor da Residência Médica em Psiquiatria no Centro de Atendimento Psiquiátrico Aristides Alexandre Campos, ainda existem desafios na implementação dessa abordagem.

“Entre os desafios para a implementação das Estratégias de Cuidado na Redução de Danos, há a necessidade de contratação e capacitação dos profissionais que atuam na linha de frente. Esses são passos fundamentais para ampliar as possibilidades de uma assistência mais efetiva e humanizada. Os transtornos causados pelo uso de substâncias são multifacetados e exigem uma análise sob diversas perspectivas. Questões no contexto histórico-cultural desempenham um papel crucial e devem ser incorporadas ao debate sobre o estigma, evitando simplificações reducionistas, como atribuir a dependência apenas ao consumo de uma substância específica. A realidade é mais complexa. É essencial ir além da ideia de dependência e visualizar as pessoas em sua integralidade, considerando suas múltiplas dimensões. Neste contexto, o estigma se torna um obstáculo, afetando tanto os profissionais quanto os usuários, e muitas vezes impede que se visualize novas formas de cuidar e de ser cuidado”, acredita.

Redução de danos

A prática cotidiana da estratégia de redução de danos na Rede de Apoio pode melhorar a qualidade de vida das pessoas com problemas relacionados à drogadição, pois o método respeita as decisões e a autonomia dos indivíduos durante os cuidados.

É essencial realizar ações como a Reunião Ampliada de Rede, para que a abordagem seja vista como um meio de cuidado contínuo e adaptável. E assim, superar barreiras como o estigma, resistência e dificuldade de aceitação por parte dos profissionais, a partir de treinamentos e formações que possibilitem a compreensão dos benefícios e a troca de experiência profissional para a aplicação deste mecanismo em diferentes contextos. 

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