Drogas: principais efeitos e consequências

18/03/2025 10h47

É de senso comum que o uso de álcool e outras drogas pode gerar a dependência e problemas de saúde. No entanto, este conhecimento popular, geralmente, não esclarece sobre os principais efeitos e consequências que o consumo dessas substâncias têm no funcionamento do organismo e na saúde mental. 

Segundo o médico clínico Luis Felipe Gonçalves, que atua na Rede Abraço em Linhares, o uso de substâncias psicoativas pode trazer consequências e afetar o funcionamento de órgãos como o coração e até causar danos irreversíveis. 

“Um dos motivos para o uso de drogas afetar o funcionamento do coração e outros órgãos, são os efeitos e alterações promovidas pelas substâncias no sistema nervoso simpático. Dentre os principais problemas relacionados ao coração, por exemplo, estão as arritmias, disfunções valvares e insuficiência cardíaca. Além disso, as drogas podem causar danos irreversíveis, dentre eles, podemos citar os danos à saúde mental do indivíduo, ao aparelho cardiovascular e até mesmo à integridade física de quem abusa de substâncias, uma vez que, estando sob seus efeitos, principalmente fora de um ambiente controlado, a chance de acontecer algum acidente é potencializada”, destaca o médico.

De acordo com dados do Sistema de Internação Hospitalar (SIH), em 2022, foram registradas 946 internações hospitalares pelo uso de drogas, sendo 689 de homens e 257 de mulheres. 

Em 2023, o número foi de 1.030; 749 homens e 281 mulheres. Até novembro de 2024, ocorreram 589 e 197, de homens e mulheres, respectivamente, totalizando 786 internações.

Complicações físicas do abuso de substâncias

Além dos problemas relacionados ao coração como as arritmias, disfunções valvares e insuficiência cardíaca, a alta concentração de substâncias no organismo, maior do que o corpo suporta, pode ocasionar a chamada “overdose”, que compromete as funções vitais do corpo. 

Dentre os principais sintomas desta condição estão vômitos, confusão mental, perda de consciência, sono em excesso, taquipneia (respiração acelerada), entre outros que podem ser fatais. Outras complicações que as substâncias causam é a interferência na percepção de tempo e no processamento de informações cognitivas. 

“As drogas atuam no sistema nervoso central (SNC) do ser humano das mais diversas maneiras, podendo funcionar como depressoras, estimulantes ou até mesmo perturbadoras do SNC. São essas ações que ditam a forma como a substância irá alterar a sensopercepção e outras funções cognitivas importantes do paciente. Durante os atendimentos, os sintomas mais comuns de se observar em pacientes que abusam de substâncias psicoativas são os relacionados à saúde mental. Pacientes desorientados, com comprometimento da fala, com pensamentos lentificados e com sintomas ansiosos e/ou depressivos são cenários recorrentes”, conta o médico. 

Drogadição e os problemas de saúde mental

O uso de álcool e outras drogas está frequentemente associado ao desenvolvimento de condições como ansiedade generalizada, depressão e psicoses - especialmente em pessoas predispostas a esses transtornos.  Além disso, o consumo pode causar alterações no humor, variando de euforia extrema a depressão intensa.

Segundo a psicóloga e referência técnica que atua na Rede Abraço de Cachoeiro, Dôra Soares, estudos têm demonstrado que as drogas conseguem provocar danos significativos, comprometendo a memória, a capacidade de concentração, raciocínio lógico e até danos cerebrais permanentes.

“Pesquisas indicam que as consequências do uso prolongado podem causar danos cerebrais permanentes impactando significativamente as capacidades cognitivas e saúde física das pessoas. Podem causar patologias como o aumento no risco de infartos, arritmias e outras complicações cardiovasculares graves. O uso contínuo está relacionado ao desenvolvimento de depressão crônica e à dificuldade de recuperação emocional, mesmo após a interrupção do uso. Os desequilíbrios emocionais associados ao consumo podem levar à ideação suicida, muitas vezes acompanhada de planejamento e tentativas, representando um grave perigo à vida do paciente - e esses episódios podem ser potencializados nos momentos de abstinência”, explica a psicóloga. 

Em relação a pessoas com transtornos mentais preexistentes, os sintomas podem se intensificar, e condições como ataques de pânico, episódios depressivos e outros quadros psicológicos podem ser agravadas.

No caso de indivíduos que recorrem às drogas como forma de automedicação para aliviar os problemas ligados aos transtornos, essa prática, a longo prazo, tende a piorar a situação. Além disso, o consumo durante o tratamento com medicamentos psiquiátricos pode comprometer a eficácia, dificultar o sucesso das terapias psicológicas e tornar a recuperação mais complexa, prolongando o sofrimento e as dificuldades associadas.

“É importante ressaltar também que o uso pode levar ao isolamento social, com o afastamento de amigos e familiares, resultando na perda de importantes redes de apoio. As pessoas que fazem uso abusivo dessas substâncias frequentemente assumem comportamentos impulsivos, expondo-se a situações de risco, como violência, acidentes e práticas sexuais desprotegidas. A instabilidade emocional e as mudanças imprevisíveis de humor tornam os relacionamentos interpessoais mais desafiadores, dificultando a convivência e o fortalecimento de vínculos. Também é comum observar prejuízos educacionais e profissionais significativos, uma vez que o uso de drogas envolve o foco, a motivação e a produtividade”, finaliza a psicóloga. 

Substâncias e os efeitos psicológicos

Os efeitos das substâncias no organismo podem variar conforme o tipo de substância, a quantidade consumida, a frequência de uso e as características individuais de quem as utiliza. Cada substância provoca reações diferentes no corpo e na mente.


Estimulantes (ex.: cocaína, anfetaminas, nicotina):

Estimulantes podem induzir euforia, aumento de energia e confiança. Contudo, em doses elevadas, estão associados a sintomas como ansiedade, paranoia e até episódios psicóticos.

Depressores (ex.: álcool, benzodiazepínicos e outras):

Esses medicamentos e o álcool proporcionam relaxamento e alívio da ansiedade, mas podem levar à sedação excessiva, redução da produtividade, dependência e sintomas depressivos a longo prazo.

Alucinógenos (ex.: LSD, cogumelos psicodélicos e outras):

Provocam intensas alterações na percepção sensorial, como alucinações visuais e auditivas. No entanto, apresentam risco de episódios psicóticos e flashbacks, mesmo após a interrupção do uso.

Opioides (ex.: morfina, heroína, fentanil e outras):

Conhecidos por proporcionar uma sensação de intenso prazer e alívio da dor, os opioides apresentam elevado risco de depressão e dependência física severa.

Cannabis (maconha):

Geralmente associada a uma sensação de relaxamento, a maconha pode causar ansiedade, dificuldade de concentração, paranoia e risco de psicose, especialmente com o uso frequente de variedades com alto teor de THC.

Tabela: Dôra Soares

Prevenção e tratamento

Os problemas com o álcool e outras drogas podem ser evitados e tratados por meio de abordagens preventivas e terapêuticas eficazes.

A Rede Abraço desenvolve o Projeto de Ações de Educação e Prevenção ao uso de substâncias psicoativas. Para isso, foram criados o Caderno Metodológico de Prevenção ao Uso de Álcool e outras Drogas para as escolas públicas da rede estadual; o Curso de Formação sobre a Temática de Drogas nas salas de aula; e os editais de Práticas Pedagógicas e de Boas Práticas Pedagógicas. 

Na estratégia do cuidado e tratamento, três Centros de Acolhimento e Atenção Integral sobre Drogas (CAADs) estão localizados em Vitória, Cachoeiro e Linhares, com espaços humanizados e acolhedores que funcionam como serviço de porta aberta, sem necessidade de agendamento, para atender pessoas que precisam de acolhimento e tratamento, bem como suas famílias.

O tratamento é realizado no Centro de Acolhimento e Atenção Integral (CAAD), por uma equipe multidisciplinar composta por médicos, assistentes sociais, psicólogos, nutricionista e enfermeiros.

Onde procurar ajuda

  • CAAD Vitória - (Região Metropolitana) - R. Treze de Maio, 47 - Centro 
  • CAAD Cachoeiro de Itapemirim (Região Sul) - R. Dr. Raulino de Oliveira, 56 - Centro
  • CAAD Linhares (Região Norte) - Av. Hans Schmoger, 333 - Nossa Sra. da Conceição
  • Telefone de contato: 0800 028 1028
  • WhatsApp: (27) 3636-6200

Texto: Júlia Paranhos

Indicadores do Programa Estadual sobre Drogas desde 2019