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Ganhando pontos: acupuntura ajuda pacientes no abandono do tabagismo
25/10/2024 16h21 - Atualizado em
25/10/2024 16h26
Parar de fumar é um desafio para muitas pessoas que têm o hábito de consumir cigarros ou usar dispositivos como narguilés e cigarros eletrônicos com a substância da nicotina. Por isso, no município de Aracruz, um projeto vencedor pela terceira vez do Edital de Boas Práticas, o "Ganhando pontos: acupuntura para alcoolistas e tabagistas na atenção básica em saúde" vem auxiliando pacientes como Ariane da Penha Magalhães, de 35 anos, a abandonar o tabagismo por meio de um tratamento não farmacológico.
Ariane, que há anos enfrenta a fissura — desejo súbito e intenso de utilizar o cigarro -, atualmente participa das sessões de acupuntura do projeto. A compulsão, em 2022, lhe causou um ataque isquêmico transitório (AIT), que é um problema ocasionado devido ao entupimento ou rompimento de uma artéria cerebral, provocando um déficit neurológico que, em repetição, pode levar ao Acidente Vascular Cerebral (AVC). Após o incidente, Ariane ficou internada por 15 dias e até tentou deixar o cigarro, porém, sem sucesso. Desta vez, ela decidiu tentar com a acupuntura e uma nova motivação.
“Hoje, o que me motiva parar de fumar é a minha filha de 11 anos. Ela nasceu prematura e tem vários problemas de saúde. Recentemente, descobri que ela está com um nódulo no pulmão. E mesmo não relacionado ao meu tabagismo por não fumar perto dela, quero muito parar de fumar. E quando anunciaram que iriam ter um projeto sobre acupuntura e tabagismo, eu fiquei interessada. Acredito que vai ser bem diferente e inclusive já fiz acupuntura para melhorar algumas dores. Então, no momento que ouvi várias pessoas falando nos resultados de combate ao tabagismo, quis participar”, comenta a paciente.
Medicina chinesa como tratamento
A acupuntura é uma intervenção em saúde que faz parte dos recursos terapêuticos da medicina tradicional chinesa. O tratamento consiste em estimular pontos ao longo dos meridianos que são canais conectados à superfície do corpo com os órgãos internos por meio de inserção de agulhas, com o objetivo de promover, manter e restaurar a saúde.
De acordo com Juliana Oliosi Calheiros, enfermeira e especialista em acupuntura clássica chinesa, alguns benefícios da prática em tabagistas e alcoolistas incluem a diminuição da ansiedade, a melhora do sono, a redução da compulsão alimentar e a mitigação de danos. A última é considerada, especialmente, em casos de pacientes que, na primeira avaliação, desejam diminuir o número de maços utilizados.
“A primeira avaliação é feita por meio de um questionário que os pacientes preenchem. Em cada atendimento, faço uma avaliação rápida para verificar se houve redução no consumo de cigarros ou se pararam de fumar. E a cada cinco sessões, conseguimos medir se eles conseguiram reduzir os sintomas da abstinência, diminuir a quantidade de cigarros fumados ou adiar o momento do primeiro cigarro, que geralmente proporciona mais prazer. Inicialmente, pedimos que eles estabeleçam uma das três metas: parar imediatamente; parar em 10 dias; ou ir reduzindo gradualmente. Dessa forma, monitoramos se eles atingiram a meta de diminuir ou cessar completamente o consumo, além de verificar se apresentaram sintomas de abstinência, como ansiedade e compulsão alimentar”, explica a especialista.
A profissional ressalta que os principais motivos que levam os pacientes a fumar vão além do prazer proporcionado pelo cigarro, ou seja, eles englobam outros fatores, tais como questões culturais, sociais e de comportamento. E para ela, ajudar esses indivíduos no enfrentamento desses problemas e da fissura com o recurso terapêutico é uma experiência gratificante.
“É recompensador ver que escolhi o caminho certo. Sou enfermeira há 13 anos e acupunturista há quatro. A acupuntura, uma técnica milenar, pode trazer benefícios incríveis para o organismo. E alinhando-se ao nosso trabalho de atendimento integral, ela oferece diversas vantagens, não apenas no combate ao hábito tabágico, mas também na convivência familiar. Em muitos casos, a pessoa nem precisa recorrer ao uso de bup”, comenta.
Embora seja focado na acupuntura, o projeto que já atendeu 30 pessoas em dois anos de realização, oferece outras técnicas de aplicação como auriculoterapia, acupuntura sistêmica, Técnica ILIB (Fotobiomodulação Sistêmica Vascular), aromaterapia e ventosa. E caso o paciente necessite, são realizadas intervenções com medicamentos como o bup (medicamento indicado no tratamento de transtorno depressivo maior (TDM) ou na prevenção de recaídas) e a goma mastigável sem açúcar, que ajuda a reduzir e abandonar o hábito de fumar.
Em relação ao número de sessões e meses de duração, os participantes dentro de três a quatro meses de sessões têm acesso a consultas com os médicos, psicólogos e nutricionistas da unidade de saúde. O apoio também é realizado pelas assistentes sociais e a coordenadora da unidade, Elizangela Viega da Silva Marrane, nas divulgações ou demais necessidades dos pacientes.
“A expectativa é que o projeto traga mais bem-estar e qualidade de vida para os pacientes. Sabemos que há muitos problemas de saúde e doenças debilitantes surgindo pelo uso do tabaco. Quando Juliana disse que traria a prática da acupuntura, achei muito interessante e após divulgar no grupo dos pacientes e na unidade, eles ficaram ansiosos perguntando quando o projeto iria acontecer”, lembra a coordenadora.
Edital de Boas Práticas
O Governo do Estado, por meio da Subsecretaria de Estado de Políticas sobre Drogas (Sesd), vinculada à Secretaria de Estado do Governo (SEG), lança anualmente o Edital de Boas Práticas no campo da política sobre drogas. A partir disso, são selecionados projetos em três eixos temáticos: prevenção ao uso de drogas; cuidados e tratamentos para pessoas com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas; e reinserção social.
Após um processo de seleção, os projetos contemplados recebem o prêmio para viabilização ou fortalecimento da iniciativa.
A Rede Abraço já premiou 119 iniciativas e repassou mais de R$ 4,5 milhões desde 2020 para instituições e projetos vencedores.
Texto: Júlia Paranhos