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Musicalidades: projeto de cultura Afro-capixaba como aliado na prevenção de danos e no cuidado da saúde mental de jovens
11/12/2024 14h22 - Atualizado em
11/12/2024 14h44
A musicalidade é uma forma de comunicação que dá voz aos indivíduos sobre suas necessidades. A prática, aliada à cultura, também reflete tradições, proporciona acolhimento e melhora diversos aspectos do bem-estar psicológico. Em Vila Velha, o projeto “Congo e Musicalidades Afro-capixabas”, um dos vencedores do Edital de Boas Práticas de 2024, transmite o significado da palavra e é ferramenta de redução de danos e prevenção ao uso de substâncias psicoativas entre jovens de 15 e 29 anos.
Segundo o coordenador e terapeuta ocupacional Daniel Delvano, alinhar a cultura, identidade, ancestralidade e memórias é fundamental para o enfrentamento de questões complexas, como o uso de álcool e outras drogas.
"O uso de substâncias psicoativas é multifatorial e, por isso, as ações também devem ser. Elas precisam ser contínuas, sustentáveis, afetivas, longitudinais e intersetoriais. O projeto, por meio da música, se constituiu como um espaço essencial de escuta e acolhimento. Tivemos a oportunidade de estar na comunidade e considerar as rodas de Congo e de capoeira como espaços de saúde. O Edital possibilitou meios concretos para financiar, fomentar, garantir transporte, alimentação, compra de materiais e instrumentos para o ‘Musicalidades’, que já atua há quase 13 anos na Rede de Saúde Mental de Vila Velha. O Boas Práticas abriu um respiro possível para explorar horizontes e novas formas de produzir o cuidado junto à rede de atenção psicossocial e a redução de danos”
Impacto do projeto na juventude
O ‘Musicalidades’, que surgiu de uma proposta de CAPs e CAPs AD com a Unidade de Saúde da Barra do Jucu, está há seis meses em parceria com o Edital de Boas Práticas, impactando positivamente no bem-estar físico e psicológico dos adolescentes e jovens.
Segundo os coordenadores Daniel Delvano e Maurenia Lopes, houve uma mudança no humor, sono, motivação e autoconfiança dos participantes. Além disso, redução na ansiedade, estresse e maior integração entre os jovens. E esses efeitos físicos podem ser atribuídos à capacidade da música de ativar áreas do cérebro associadas aos centros de recompensa.
A coordenadora do projeto, Maurenia Lopes, aponta que com as práticas expressivas, os jovens participantes também ampliaram as habilidades sociais e o repertório cultural com a conexão do jovem e o ‘antigo’.
“Musicalidades Afro-capixaba é o primeiro grupo de congo da periferia da Terra Vermelha, em Vila Velha, e tem como uma de suas propostas a conexão entre gerações, resgatando tradições e relacionando com as potencialidades do território. Através da fusão do Congo com samba, rap e funk, impactamos positivamente a vida dos jovens, promovendo a saúde mental. Os espaços do projeto funcionam como escritórios de convivência, inclusão, debates, rodas de conversa e locais de lazer, além de propostas de projetos de vida. Tanto que, alguns jovens retornaram à escola, participando da EJA ou do ENEM, e passaram a valorizar mais a cultura local, desenvolvendo habilidades sociais e emocionais, se empoderando. Em 2024, aqueles que participaram do projeto de Escrita Criativa no ano passado, também apoiado pelo Edital de Boas Práticas, receberam uma bolsa de incentivo para participar como monitores no projeto com as crianças", conta Maurenia Lopes
Durante o projeto, os adolescentes e jovens participantes da iniciativa tiveram acesso às oficinas musicais e expressivas da cultura afro-capixaba, contudo, não só isso. Apesar da música ser um dos elementos centrais, a aplicação de outras técnicas como acolhimento, roda de conversa, uso de recursos audiovisuais, passeios culturais e demais ações para proporcionar o aumento do repertório dos jovens foram adicionadas ao ‘Musicalidades’.
Foram realizadas também ações territoriais via reunião com equipe de apoio no Centro de Referência da Juventude, bem como monitoramento das questões sociais que envolvem o desenvolvimento biopsicossocial dos acompanhados pelo projeto.
Texto: Júlia Paranhos